As cerimônias de himeneu testemunham um interessante fenômeno: a volta triunfal dos chamados “bolos de prometida”, os vestidos mais tradicionais para festejar a união. Com rendas delicadas, mangas bufantes e caudas majestosas, modelos que remetem às décadas de 1950 e 1960 estão recuperando espaço em festas que pareciam, até muito pouco tempo detrás, dominadas por ousadias uma vez que barras exageradamente curtas, tecidos coloridos e cortes assimétricos. Com a chegada de maio, mês das noivas, cabe, portanto, uma indagação: o que explica a nostalgia pintada de branco?
Uma explicação é o efeito do cansaço do tempo restritivo e sem perdão da pandemia, que se impôs por premência. Outra está relacionada ao desenvolvimento da vaga conservadora que invadiu o planeta. Na instabilidade, é originário um movimento de retorno ao clássico, por ser seguro. Porquê a tendência reflete os humores da sociedade, os vestidos volumosos, de raconto de fadas, crescem e aparecem, ao festejar valores uma vez que uma suposta pureza. Some-se às duas respostas — a reação às quarentenas de corpo e psique e a pegada comportamental mais tímida — um outro passo, também decisivo, e eis a vaga pronta para não perder o viço. Trata-se, enfim, de resistir ao excesso de experimentalismo, o vale quase tudo das últimas décadas. “Entre tantas incertezas, o vestido de prometida resgata o sonho, um tanto que nunca sai de tendência”, diz a estilista Lethicia Bronstein. “Um vestido frondoso transforma a mulher em personagem grandiosa, de momento único.”
É, a muito da verdade, um movimento cíclico, típico do universo da tendência. Em 1981, a princesa Diana se casou com o portanto príncipe Charles com um padrão assinado por David e Elizabeth Emanuel. O vestido de seda marfim e renda levava 10 000 pérolas bordadas, rabo de 7,6 metros e véu de tule de 140 metros. Foi espantoso, aplaudido e invejado, ainda que exagerado. É esse tipo de extravagância que agora ressurge, com qualquer toque de modernidade.
Em janeiro, por exemplo, Sabrina Sato se casou com o ator Nicolas Prattes, numa sarau que ganhou destaque no mundo muito privado das celebridades. Para a cerimônia, a ex-BBB vestiu um padrão criado pelo estilista italiano Giambattista Valli, divulgado pelas peças exageradas que podem custar mais de 100 000 reais. Valli não decepcionou: fez um superabundante vestido de tafetá de seda, com saia de dimensões extravagantes, mangas bufantes e véu enorme. “Foi uma vez que sempre sonhei”, disse Sabrina. A atriz Larissa Manoela, que festejou três vezes o himeneu com o mesmo ator, André Luiz Frambach, foi do minimalista, em 2023, ao convencional, em dezembro do ano pretérito. Na versão mais recente, apostou em um padrão da marca Nicole + Felicia que apresentava um efeito nuvem com camadas intermináveis de tecido. Nas mídias digitais, uma vez que Instagram e Pinterest, o excesso saudosista domina os feeds de estrelas internacionais uma vez que a atriz e cantora Ariana Grande, a estrela do músico Wicked.
Não há estimativa precisa de quanto esse setor fatura no incessante mercado de casamentos, mas sabe-se que as noivas geram um tanto em torno de 34 bilhões de dólares em todo o mundo por ano, o equivalente a 194 bilhões de reais — 32 bilhões de reais somente no Brasil. O bolo vai crescer ainda mais. Estimativas apontam que esse valor deva chegar a impressionantes 60,4 bilhões de dólares globais até 2034. A riqueza que sai do armário — entre a nostalgia e as tentativas de inovação, agora no cadeira — é sinônimo de vigor incessável. Procura-se, uma vez que sempre na façanha da cultura, refúgio no confortável e, por que não, no glamour de um momento indizível da vida, guardado na memória. E que seja imortal, posto que é labareda, uma vez que cantou Vinicius de Moraes. Que assim seja, para quem quiser.
Publicado em VEJA de 25 de abril de 2025, edição nº 2941